um recreio nada convencional

Desde sempre fui pequena, sempre a menor da sala, aquela que a professora coloca na primeira carteira de tão baixinha. Nem sempre minha coordenação motora foi boa por sentir que meu tamanho era um grande problema, assim era uma das íltimas a ser escolhida, fosse nas aulas de educação física ou em brincadeiras de final de semana. Mas isto mudou quando conheci a Queima (jogo que em São Paulo chama Queimada). E não demorou muito para que virasse meu jogo favorito e toda e qualquer oportunidade que eu tinha, estava pronta para jogar. Por ser um jogo simples a Queima era bastante popular durante as aulas de educação física e foi incluída como uma das “provas” das Olimpíadas (semana de competições entre classes que tínhamos anualmente no Marista).

Durante os recreios no colégio o pátio, o campo e as quadras estavam sempre lotados de alunos praticando tudo quanto é modalidade de esporte. Tinha os meninos do futebol, as meninas do handball, o misto do basquete, o povo do spirobol e claro a galera da queima.

Inspirada pelo sucesso que meu time tinha feito nas Olimpíadas de 94, quando eu tinha 11 anos, eu e minhas amigas resolvemos nos arriscar e começar a jogar durante os recreios. Acontece que as partidas sempre misturavam alunos de diversos anos e os mais velhos sempre comandavam a brincadeira. Mesmo assim a gente não se intimidou e fomos sentar esperando nossa vez jogar.

Eis que chegou a hora e animadas fomos nos dividindo nos times. Mas então um dos “donos da bola” decidiu que eu não poderia jogar. O garoto, de 13 anos, falou que eu era pequena demais, fraca, que ia cair e sair chorando. Inconformada com aquilo – ele nem me conhecia – tomei coragem e retruquei. Disse que era boa no jogo e nunca me incomodei de ter o joelho ou cotovelo ralado. Ele nem sequer me ouviu e ainda me enxotou do campo, porque eu estava fazendo ele perder tempo de jogo. Ninguém disse nada, nem minhas amigas. Cheia de raiva e sentindo meus olhos se encher de lágrimas fui embora.

Sentei em um degrau que ficava de frente para as quadras e apoiando a cabeça nos joelhos fiz o maior esforço do mundo para engolir aquele choro, daqueles que fazem a garganta doer…muito. Então alguém cutucou meu braço e falou:

Oi. Não fica assim não, vem jogar!

Olhei para cima e vi um dos meninos do colégio que eu achava mais bonito e que era o melhor amigo do cara que tinha me proibido de jogar. Fiquei perplexa…

Como? Ele não deixa! Já tentei e viu no que deu, né?

Ele foi embora, interrompeu o jogo e puxou o outro de lado. Todo mundo parou para olhar. Eles não brigaram, mas parecia que o mundo ficou em silêncio para ver o que eles estavam conversando. Depois de uns segundos os dois começaram a vir em minha direção e o garoto mal educado, com cara de tonto disse com muita ma vontade:

Então… desculpa. Você pode jogar.

Olhei para o amigo dele que estava ao lado sorrindo, sorri de volta e levantei. Ele disse que eu era do time dele e achei aquilo o máximo. Para melhorar ainda ganhamos o jogo! E este foi de longe um dos melhores recreios que tive na vida. E tenho dito!

10 comentários sobre “um recreio nada convencional

  1. Nessa. disse:

    Nuoooossa!!!!
    Eu tb sofria por ser a ultima a ser escolhida e eu fiquei um pouco mais popular pq eu jogava queimada muito bem. hahahahaha
    Somos muitoooo parecidas!!!!
    Mas nunca rolou de me defenderem ou o garoto gracinha me chamar. =/
    Mas tah valendo tb! hahahahahaha

    Beijaooooo.

  2. Maria disse:

    Essa história fico bem cinematográfica já que eu estava ouvindo Total Eclipse Of The Heart. Eu só gostava do recreio porque eu gostava de comer meu lanchinho feito em casa. Nada melhor do que merenda!

    • paulinha mihuda disse:

      Nem me fala, os sanduichinhos e o suquinho de limao que a mae fazia eram os melhores e combinavam perfeitamente com as trakinas de chocolate… Como da saudades desses tempos.

  3. Rafa disse:

    Eu entendo bem essa situação. Sempre era a última a ser escolhida em qualquer situação, mas infelizmente nunca tive um amigo legal pra me defender.
    História fofa !
    E um detalhe, aqui no Rio é queimadO.

    • paulinha mihuda disse:

      Rafa fui procurar na Internet e ate linkei a pagina do Wikipedia falando disso e vi que em cada lugar o jogo tem um nome. Diz ate que eh chamado de Cemiterio, mas nao diz aonde. Nao sei se eu teria coragem de me aventurar em um jogo com um nome desses, hahaha…
      A mais medrosa!

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